quarta-feira, 4 de junho de 2008

Os dois ataques de punho básicos

Oi - Tsuki - AtaqueO Oi-Tsuki é uma técnica bem característica do Karaté clássico e fundamental. Vindo de trás, o pé, ancas, punho e antebraço. Avançando em Zen-kutso, adquire uma potência formidável que permite a perfeita sincronização de um ponto essencial: o pé que avança deve imobilizar-se no instante preciso em que o punho dá o impacto.
O ideal para aprendizagem é treinar primeiro o movimento de rotação do punho, parado e só quando a rotação de saída (os cotovelos, devem roçar as costelas sempre) estão sincronizados. Então começar com os avanços ou recuos, mantendo a consciência de que os ombros devem manter-se de face para o avanço e o punho contrário manter-se em "Hikité", forte no movimento da pancada. ( Hikité é o movimento de retorno e aperto do punho contra a anca no intervalo de cada técnica). Para executar o Oi-Tsuki, toma-se normalmente a posição de Gedan- -Barai, (defesa em varrimento com o braço).

A execução do Tsuki procede-se adiantando o punho direito e avançando a perna direita em Zen-Kutso, ao mesmo tempo que recuamos rapidamente o punho contrário à cintura, com as unhas viradas para cima. O Oi-Tsuki é um dos melhores ataques possíveis em combate, pois permite atacar de longe e encandear um número de ataques rapidíssimos. Deve ser treinado sistematicamente até atingir força e velocidade no movimento do batimento.

Gyaku-Tsuki - Contra ataqueO Gyaku-Tsuki, que o iniciado julga multas vezes ser igual ao Oi-Tsuki, é o ataque contrário às pernas, batendo-se por exemplo com o punho direito quando avançamos o pé esquerdo e vice-versa. Os ombros são igualmente face ao impacto e a posição do Hikité é também invariável. É o ataque ideal depois de qualquer blocagem e muito usado em contra-ataque. A acção das ancas é aqui primordial, podendo seguir a força do braço mas mantendo uma grande estabilidade, aumentando também a largura das pernas para alargar o polígono de sustentação. O Gyaku-Tsuki deve, depois de ter atingido uma força regular de execução, recuar velozmente à cintura e pode bater aos três níveis: Cabeça ou Carótida (Jodan), Costelas ou Plexo (Shudan), Baixo Ventre(Gedan), etc..

As quatro posturas fundamentais

Hachichi - Dachi - YoiEsta é a primeira posição, aparentemente simples pois consiste apenas em estar de pé, com os punhos cerrados frente às coxas. e os pés abertos somente na linha dos ombros. É chamada a "postura de espera". O olhar é direito em frente, sem estar fixo em nenhum ponto preciso, respiração discreta. Devemos sentir-nos prestes a tudo, pesados e ligeiros, fortes e rápidos, sem demonstrar qualquer emoção. Rosto impassível.




Zen - Kutsu - DachiA tradução significa "posição com o busto direito para a frente". Em execução o peso do corpo deve manter-se 60 por cento sobre o joelho da frente que deverá manter-se forte. A perna de trás deve estar fortemente esticada e com o pé ligeiramente virado. O pé da frente deve estar ligeiramente voltado para o interior fazendo força nessa direção. O joelho, porém deve fazer força para fora. Ao avançar, os joelhos unem, fazendo ao andar um semicírculo pelo interior. Esta posição é ideal no contra-ataque e permite resistir a uma força vinda da frente.

Ko - Kutsu . DachiA tradução significa "postura com o peso do corpo para trás". Nesta posição a perna de trás é fortemente refletida, suportando 80 por cento do peso do corpo. O peito apresenta-se de perfil mas a cabeça é conservada em direção à frente. O ideal é que o torso, as ancas, o joelho e o pé sejam conservados no mesmo ângulo da vertical. O joelho da frente fica muito ligeiramente dobrado. A utilização desta posição é essencialmente defensiva (Shuto por exemplo). Permite um recuo rapidíssimo a um ataque forte, recuo que deverá ser simultâneo uma esquiva e uma tomada de forças para passagem ao contra-ataque em Zen-Kutso.

Kiba - DachiKiba-Dachi - quer dizer textualmente: "cavaleiro de ferro". Posição desconfortável e difícil para o iniciado, só é compreendida mais tarde a sua eficácia e extrema utilidade em combate. Tecnicamente o peso é igualmente repartido entre as duas pernas, muito dobradas com os artelhos dirigidos para o interior exatamente como se montássemos um cavalo. A força das pernas deve ser igualmente distribuída pelos músculos costureiros e pelos joelhos. É a posição mais forte do Karaté e a base das "tekkis" (Katas de Cinto Negro e Vermelho). Esta posição é utilizada para combater lateralmente apresentando-se portanto de perfil em relação aos adversários, pois permite o controle quase total de todas as faces e possibilidades de defesa em todas as direções possíveis. Os iniciados devem esforçar-se o máximo por adquirir estabilidade nesta posição, forçando o centro de gravidade (hara) em direção a baixo.

Técnicas de Karate

As formas de batimento com as mãos e pés, joelhos, cotovelos, cabeça, são variadas. Fixarei as mais racionais, eficazes e, sobretudo, as que se aprendem até ao 1º Dan. Não é necessário possuir uma variedade grande de técnicas para ser um bom karateca mas sim conhecer em profundidade as fundamentais. Aos iniciados estas técnicas parecerão talvez resumidas, em comparação com certos volumes da especialidade, noutras línguas, que apresentam formas variadas de bater com a mão que só servem como prova documental das imensas possibilidades do Karaté.
Bases das armas naturaisO Seiken é o famoso Tsuki que quer dizer bater directo. É a mais devastadora forma de batimento da bagagem do Karateca, e a única que permite utilizar toda a força em bloco do corpo no ataque. Para conseguir um Tsuki com urna força deveras importante é necessário começar pelo fechar da mão. Fechar primeiro as falanges da ponta dos dedos, a seguir os nós dos dedos, apertando bem as unhas contra a palma da mão; o dedo polegar deve apertar-se bem contra o indicador. A face do punho deve ficar completamente direita. Para consegui-lo são muito úteis as flexões sistemáticas com os punhos no solo, que endurecem extraordinariamente os nós dos dedos.

O martelo de mão - TetssuiO Tetssui ou martelo de ferro, traduz-se na utilização da parte lateral do punho, técnica terrivelmente eficaz no ataque á nuca, ao cotovelo, á têmpora, etc..


O reverso do punho - UrakenO Uraken é a parte do reverso do punho, sendo o golpe dado normalmente de cima para baixo ou de lado.

O sabre ou cutelo da mão - ShutoO golpe com a parte de for a da mão em cutelo é o meio de resposta mais conhecido e mais utilizado em Karaté. Este golpe é muitas vezes a identificação do Karaté e oferece múltiplas possibilidades em combate. Como o punho, a mão bem esticada deve ser sólida e sempre sob tensão, o polegar deve dobrar-se contra a palma da mão para evitar entroses e luxações. Este ataque é utilizado á garganta, ás têmporas, nuca, flancos, raiz do nariz, entre os olhos, etc.. Em defesa, blocagens do punho, dos ataques de pés, etc..

As pontas dos dedos - NukitéO Nukité são as extremidades dos dedos e é muito utilizado em ataques á garganta e ao estômago. Este ataque é formado pela ponta dos dedos reunidos ou pelo dedos separados (ataque aos olhos). As técnicas de Nukité necessitam pouco do emprego da força e são de terrível eficácia.
A palma de mão - TeishoEsta técnica circunscreve-se à parte inferior e carnuda da mão, muito potente e utiliza-se em ataques ao baixo ventre, nariz, testa e também em paragens do corpo, á cabeça ou ao peito, para executar contra ataques. Dada na base do nariz, de baixo para cima, causa a morte, pois espeta o osso do nariz no cérebro!
O cotovelo - EmpiO cotovelo, por estranho que pareça é a arma mais potente do corpo humano. Esta parte do corpo pode bater em quase todas as situações junto ao adversário. Particularmente eficaz no corpo a corpo, o seu emprego necessita relativamente pouca força. Pode executar-se directo, circular, para trás e para baixo e o impacto faz-se com a ponta do osso (apófise do cúbito). Os pontos de batimento podem situar-se na cabeça, plexo solar, abdómen, costelas, nas costas e na espinha, sendo o golpe verdadeiramente esmagador se dirigido num movimento circular do exterior para o interior.
Pés - Kakato - Koshi - SokutoDividirei as imensas possibilidades de trabalho de pés em três mais conhecidos e aplicados nas técnicas até cinto negro.O kakato - É o batimento com o calcanharO Koshi - A parte carnuda deixado dos dedos dos pés. É aplicada nas técnicas Mae-Gueri e MawashiO Sokuto - A parte do sabre do pé. É conseguido através da contracção do artelho, directamente para o lado, e aplica-se nas técnicas de Yoko-Gueri.
O joelho - HizaComo o cotovelo, o joelho possui uma terrível força. A articulação deve porém estar reflectida no seu máximo. A aplicação é directa ou circular, podendo usar-se nos ataques ao baixo ventre, cabeça ou costela, peito, abdómen, dorso, segundo a posição do adversário no momento.

Princípios morais e sociais do Karate

O Karaté, como doutrina ou actividade interligada à obtenção do estado "Satori" do Zen, não tem, em principio, qualquer tipo de código a seguir. No entanto, todos os "estilos", "jogos", "associações", livros sobre o assunto, insistem no aspecto altamente superior e moral do Karaté. Vejamos o juramento do Estilo Kiokushinkai que é pronunciado no fim de cada sessão de treino.
"Juramos solenemente -1º - Dedicar todo o nosso esforço ao desenvolvimento mútuo espiritual, intelectual e físico.2º - Manter-nos atentos ao ensino dos mestres, esforçando-nos por conseguir o domínio desta Arte Marcial.3º - Enfrentar com firmeza todos e cada um dos obstáculos que se ergam impedindo-nos de alcançar nossas metas.4º - Ser corteses no nosso comportamento exterior e recordar permanentemente a virtude da modéstia.5º - Ter respeito pelos outros, superiores ou inferiores, amigos ou inimigos.6º - Evitar todo o incidente desnecessário e só utilizar o Karaté em caso de perigo real e só em defesa.7º - Juramos ser bons cidadãos, membros dignos da comunidade e verdadeiros cavalheiros".
São certamente surpreendentes para muitos, os bons propósitos desta Arte Marcial em relação aos outros. E por isso é caso raro o emprego do Karaté para o mal, o que felizmente só vemos no cinema. A ascensão na técnica é acompanhada pela elevação à pureza. As graduações, os sacrifícios e sinceridade necessária a cada treino, conduzem, mesmo fora do aspecto puramente mental, a uma purificação das intenções do indivíduo, dando-lhe uma medida exacta do seu valor em relação a si mesmo e em relação aos outros, obrigando-o a uma introspecção que nivela as paixões e equilibra o espírito. Recordamos uma frase curiosa que traduz bem esse pensamento: "O Karaté é destinado a uma elite. Iniciação mental de essência superior, é inacessível a naturezas mesquinhas".

Princípios e fundamentos do Karate

Antes de entrar no plano da técnica do Karaté, há que dar atenção aos princípios fundamentais, teóricos e práticos, do Karaté, que são de uma importância excepcional para quem se proponha abordar o estudo desta arte. Dividiremos estes princípios em duas partes: a parte física e a parte mental, embora as duas estejam intimamente ligadas. Com efeito, se aprender-mos a técnica do Karaté e não a executar-mos com o espírito, essa técnica é apenas um conjunto de sóbrios e belos movimentos, mas não o próprio Karaté. Por outro lado, o espírito sem a técnica, por muita intensidade que possua, jamais poderá ser eficaz no combate total.
Energia DinâmicaTodas as técnicas do Karaté devem, depois de assimiladas, ser executadas a fundo, quase ferozmente, no sentido de libertar e acordar a energia latente. Esse é o meio de obter a explosão de força concentrada ao mais alto grau. Aqui, a vontade de cada um joga um papel mais importante do que a simples força muscular pois são cana
lizadas sobre um fim especifico todas as reservas musculares e nervosas, sendo a tensão e a contracção do tipo isométrico a base de obtenção de um poder, que cada um possui latente mas que raramente é posto em execução. O potencial atlético é realmente importante em Karaté? - A resposta é não. O importante é a tensão posta no final da execução da técnica e ao mesmo tempo a coordenação de cada movimento. Aprendemos assim a bater com o punho ou com o pé na zona onde a concentração é máxima. O factor precisão na acção entra então em jogo.
DescontracçãoA tensão que cito acima atravessa porém períodos relâmpagos de descontracção. Pode parecer um paradoxo, mas na realidade é possível atingir uma tensão em descontracção, que consiste num estado de espírito em que certos músculos e nervos se encontram instantaneamente prontos a intervir à mínima solicitação do "sentido",. E aqui digo sentido pois não é o pensamento que intervém neste caso, nem mesmo o consciente. Esta é
uma noção difícil de exprimir por escrito, pois é tão subtilmente intuitiva, que só quem a sente a pode compreender inteiramente. Com efeito, todos sabemos a importância da "ligação" do bloco, da acção em bloco, e as "nuances" atravessadas por exemplo no recuo veloz do Kokutsu acompanhado da blocagem e a contracção e descontracção atravessada pelos membros inferiores e superiores ao passar ao contra ataque em força.
RespiraçãoAs fases de força e fraqueza que o corpo atravessa são devidas à respiração. Quando expiramos, encontramo-nos vulneráveis a qualquer ataque. Dai o conselho de concentrar sempre a respiração no ataque e contrair a respiração abdominal no momento do impacto. Nunca, em Karaté, se deve agir de maneira desordenada. Uma perfeita coordenação e um perfeito equilíbrio são absolutamente necessários no que respeita à inspiração e expirarão. Daí ser por vezes monótono, para os iniciados, o tipo de treino inicial na posição zazen, onde se aprende, durante longo tempo, a respirar. Em combate de Karaté a respiração não deve transparecer ao adversário. A respiração deve ser discreta, excepto, é claro, no caso das respirações ventrais sonoras. Para o iniciado, o ler que a respiração pode ser executada com o ventre, pode parecer estranho. Aí entramos no campo do Karaté, pois a respiração pode exteriorizar-se por um grito gutural e breve, destinado mais a contribuir para a explosão de energia do que a assustar ou desorientar o adversário. Esse grito chama-se o "Kiai", que não é mais do que o estado de tensão interna que preside à execução do grito.
O KiaiO Kiai pode ser sonoro ou silencioso e é um estado psicológico, mais do que um simples berro gutural. Ele é a expressão violenta duma tensão mental e física que atingiu o paroxismo, o apogeu. Esse grito é o símbolo da explosão da dinâmica física e facilita a concentração total na acção. O Kiai deve sair das profundezas dos abdominais e não unicamente das cordas vocais. O que a maioria dos iniciados, e mesmo certos cintos avançados, fazem julgando ser o Kiai é na maioria das vezes um simples grito prolongado que é mais ridículo do que inibidor do espírito adverso. O verdadeiro Kiai é usado com parcimónia e só nos momentos exactos da acção total. Todavia é tão perigoso usá-lo descuidadosamente como prescindir dele, principalmente nos Katas Heians e Tekkis. O Karaté é a procura da sensação e não da beleza e perfeição do gesto. O próprio Kiai deve ser executado em sensação e não mecanicamente, como meio de marcação do exercício executado. A um nível mais avançado não é raro ver-se a paralisação do ataque oponente através do Kiai. Certos mestres e instrutores conseguem mesmo o desmaio do adversário, por meio do Kiai. O Kiai é pois um meio de inibição e ao mesmo tempo usado como reanimação por meio da aplicação da técnica do Kuatsu, (técnica de recuperação e reanimação de desmaio provocado por pancadas, luxações e projecções, etc.). Para chegar ao estado psicológico necessário à explosão do Kiai é pois necessária não só uma execução intensa das técnicas, em potência, mas também uma disponibilidade de espírito e contracção ventral que permita a explosão imediata da energia acumulada num instante preciso. Procurar, sobretudo, que o som provenha da parte baixa da região abdominal.
A ConcentraçãoSem verdadeira, positiva e treinada concentração mental, não há karateca válido, como atrás dissemos. Sem o espírito, a eficácia da técnica arrisca-se a severas e decepcionastes desilusões. O que é afinal a concentração em karaté? Aqui abordo um outro factor importante: o domínio pessoal, o chamado autodomínio. Ora um karateca deve, em todas as circunstâncias, ficar calmo, tranquilo, sem qualquer atitude ou gesto ou contracção visível que deixe adivinhar as suas intenções. Esse tipo de concentração deve e pode ser usado no treino do "dojo", e na vida quotidiana. Lembramos a máxima: aquele que está bem preparado, não o parece. Esta é a atitude do karateca. A tensão é dissimulada numa concentração disponível, sem a mínima excitação que deforme a realidade e impeça a percepção exacta, instintiva, do acontecimento que se produza. Por outro lado parece um paradoxo entrar em acção com a energia explosiva do Karaté e manter o espírito lúcido e o sangue frio. Como conseguir essa maravilhosa indiferença frente a situação desesperada? Como conseguir esse vazio de espírito, esse desprendimento aparente, quando toda a energia física é desencadeada? A resposta só a podem os iniciados encontrar através da prática real do Karaté. A concentração está em contradição aparente com a disponibilidade de espírito uma vez que, frente ao adversário, o karateca não deve fixar nenhum ponto preciso para assim se aperceber e registar imediata e intuitivamente a menor abertura na sua defesa. É certo que a maioria dos mestres e instrutores são unanimes em aconselhar a concentração nos olhos do adversário para assim aperceber as suas intenções, mas o verdadeiro sistema, o ideal, é a concentração do olhar ao nível do meio dos olhos, conservando o olhar vago ou tentando olhar através do rosto, mas sem fixar as pupilas do oponente. Este método permite "sentir" o adversário da cabeça aos pês.

Os estilos de Karate

A um espectador não conhecedor, o estilo de Karaté praticado por este ou por aquele clube dá a sensação de não fazer diferença nem apresentar uma especial particularidade. Porém, para os praticantes dos diversos estilos, as diferenças de concepção de técnica e mesmo das bases fundamentais, são bem distintas e muitas vezes, infelizmente, irredutíveis. Cada um julga estar na posse da verdadeira ciência e do verdadeiro segredo, caminhando, pois, na via do Karaté que considera melhor. Esses pontos de vista assemelham-se muitas vezes ao fanatismo das religiões e desembocam, como essas religiões, no mesmo fim. Há uma grande multiplicidade de "escolas" com diferentes estilos de Karaté. No Japão podemos contar 15 ou 20 diferentes. Estas serão as mais válidas pois estão mais codificadas, estabelecendo o programa de ensino através dos Katas e indicando ainda os Katas necessários a uma progressão de graduação. Dessas escolas, só falarei das cinco mais importantes e conhecidas na Europa.
O Shotokan – J.K.A
O lema do estilo Shotokan, o mais codificado e directamente ensinado e estabelecido pelo mestre Gichin Funakoshi e seu filho Yoshitaka Funakoshi, é "força, velocidade e endurance". No entanto, em princípio, é uma técnica baseada no trabalho a longa distância e em contracção de movimento. Os Katas oficiais são os Taykyokus, Heians, Tekkis, Kankus e Bassai, hoje editados minuciosamente em magníficos volumes por Masatoshi Nakayama, chefe instrutor da Japan Karaté Association. Contudo, mesmo no seio do Shotokan, existe ainda nova cisão baseada no ensino dos mestres Egami e Harada, Oshima e Murakami, que dirigem a Escola Shotokai. É um estilo muito fechado, que se detém, sobretudo, sobre o aspecto mental do Karaté. O Shotokan é o estilo mais difundido na Europa (agrupando cerca de 70 por cento de efectivos do Karaté no exterior do Japão) talvez por ser a técnica mais racionalizada e com um programa didáctico mais definido, mais sóbrio e clássico.
O Kiokushinkai
Não poderia deixar de citar o estilo Kiokushinkai, do Mestre Masutatsu Oyama. Oposto ao Shotokan, tem de espectacular o que o o Shotokan e o Shotokai possuem de sobriedade. Os volumes do Mestre Oyama estão recheados de proezas fantásticas em testes de quebra (Swiwari). Os Katas são mais complicados e pouco conhecidos na Europa: Osurhiho, Seienchin, Garyu, etc.. A guarda de combate é estabelecida a partir de Neko-Ashi-Dachi, posição que define praticamente a particularidade do estilo Kiokushinkai. Este método é praticado em todo o mundo e bastante difundido na América, onde mestre Oyama efectou um tournée que deixou todo o público abismado com tal potência.
O Goju-Ryu
Esta técnica é a tendência de estilo do velho Mestre Higaonna. Este verdadeiro gigante, de forças hercúlea, era partidário das blocagens estáticas, para dai poder efectuar o contra-ataque em contracção máxima. Daí resulta uma série de movimentos e posições mais altas e de pouca amplitude, mas de tremendo poder. Os Katas desta escola são os Sanchin, Tensho, Sanseru, Suparinpei , etc.. Este estilo é pouca estético e elegante mas muito eficaz no combate próximo. O lema deste estilo é: "Á força opõe a souplesse, à souplesse opõe a força". O mestre actual é o Mestre Morio Higaonna, 9º Dan. Também deste estilo o mestre Gogen Yamaguchi, mais conhecido por "gato", que numa idade avançada mantinha uma forma excepcional dirigindo a Escola Associação Goju-Kai (sub estilo do estilo Goju-Ryu e praticamente desconhecido na europa), com cerca de 6000 participantes. O mestre Gogen Yamaguchi faleceu em 1989 com 70 anos de idade. Uma das especialidades desta Escola é a execução dos Katas com uma respiração ventral sonora. Este estilo foi fundado no Japão por Chojun Miyagi e é praticado actualmente no Japão e na América. Gogen Yamaguchi, personagem e síntese do Zen-Karaté, 10.º Dan e patriarca do Goju-Kyu, é, com efeito, uma das figuras vivas que atestam o Karaté com forma quase sobrenatural. Sobrepõe-se, por isso, às querelas sobre a diferença dos estilos, tão apanágio nos graus mais baixas da Europa. Diz-se de Mestre Yamaguchi que o "seu olhar é tão penetrante corno um tigre", e o seu "poder semelhante ao de um leão". De facto, a impressão do contacto com um karateca que atingiu o fim do caminho, ou mesmo com os seus discípulos, deve ser única, pois contactar com mestres cuja evolução em "completa visão", "completa compreensão", "completa acção", "completa vocação", *completa aplicação", (as verdades do Zen), é receber deles os meios de atingir o "completo acordar", o fim do Karate-Zen, o "sayori".
O Wado-Ryu
Este estilo é a concepção do Karaté inteiramente japonesa, criada depois da guerra pelo japonês Hironari Otsuka. Este aprendeu o Karaté de Funakoshi, separando-se depois deste para ensinar o seu estilo de Karaté. Este estilo, baseado particularmente sobre as posições altas e de técnicas na maioria baseadas sobre a esquiva, tem como Katas fundamentais de ensino os Pin-An, Kushaku, Seishan, etc.. Os Katas Pin-An, diferem relativamente pouco dos Heians, podendo considerar-se os Katas Heians, como diferenças de interpretação. O sistema de treino é menos penoso que o Shotokan, não existindo a concentração de potência e sendo os movimentos menos sincopados. Este tipo de Karaté é representado na França pelo Mestre Mochizuki, conselheiro técnico da Federação Francesa de Karaté, e em Inglaterra pelo Professor Suzuki, autor do livro "Karate-Do Wado-Ryu".
O Shito-Ryu e as escolas Coreanas e Chinesas
A técnica representada em França por Nambu, foi inventada e codificada pelo Mestre Kenwa Mabuni. É a técnica de competição ideal, visando sobretudo o combate directo contra um único adversário (em contraste com o ideal do Karaté, que é combater um número de adversários sem limite), Possui interessantes Katas, que são também estudados na Escola Shotokan: os Shozuki, Saipa, Saifa, Kosoku, etc..

A ilha de Okinawa, criadora do Karate


A ilha de Okinawa foi, desde sempre, um ponto de contacto entre a cultura chinesa e a cultura do Japão. É nesta ilha, sucessivamente conquistada pelos imperadores chineses e pelos senhores feudais japoneses, que o Karaté toma forma sob a qual o conhecemos hoje na Europa, embora dividido em cinco escolas fundamentais de que falarei mais adiante. Nessa época era proibido em absoluto aos habitantes da ilha, sob domínio japonês, o uso das armas. Mesmo as armas brancas eram interditas. Só os samurais invasores podiam fazer uso das suas. Destas interdições nasce o Okinawte-Te, misto da escola Kempo e de técnicas locais. Constituíram-se seitas secretas que praticavam secreta e intensamente, de noite, entre discípulos seguros. Pés e mãos transformavam-se em armas terríveis capazes de substituir os punhos e as espadas. As pontas dos dedos tornaram-se tão perigosas como facas. Os cotovelos e os joelhos adquirem a potência de matracas, dos maços de ferro. Os braços a solidez dos sabres. Nesse Karaté, todos os membros eram utilizáveis procurando, sistemática e rapidamente, uma eficácia absoluta e rápida. Os golpes são sistematizados á velocidade máxima. Os estrangulamentos, luxações, projecções do corpo ao solo foram totalmente abandonados, ficando como meios acessórios. Esta fase explica a diferença de eficácia entre o Karaté e o Jiu-Jitsu japonês, mais tarde substituído pelo Judo. Em cerca de 1900, o estudo do Karaté foi divulgado em Okinawa pelos mestres Itosu e Hihaona, já com carácter oficial e aberto. Depois o governo japonês, na pessoa dos ministros, convida os mestres a ensinar Karaté no Japão. É então que entre todos se destaca o mestre Gichin Funakoshi, como personagem de primeiro plano e figura de nível intelectual, mental e espiritual impar, como ainda hoje se venera o seu espirito para que presida ao trabalho em cada "Dojo". Esse homem de olhar repousante e firme de que vemos, na parede central de cada "Dojo" de Karaté, a fotografia. É ele que organiza a escola Shotokan, codificando as actuais formas de Karaté no Japão e insuflando a uma simples técnica a forma mental do Karaté como era praticado por Bodhidarma, associando o corpo e o espirito, como nas antigas formas do Kempo. Este espirito encontrou um ressonância particular nos adeptos do Budismo-Zen e nos jovens japoneses plenos de espirito marcial do "Budo", caminho da perfeição humana através de uma das técnicas marciais (judo, Kendo, Aikido, Karaté e Sumo). Foi assim introduzido o Karaté no Japão atingindo o apogeu antes da guerra. Foi contudo a guerra que atingiu mais duramente o Karaté. Com o espírito indomável do Karaté, milhares de instrutores tombaram no fogo. Dezenas foram os famosos kamikaze, que enfrentaram serenamente e com prazer a morte contra o torpedeiros americanos. O próprio filho de Gichin Funakoshi morreu de fome, recusando as rações americanas do após guerra. Dezenas de instrutores treinavam a população de maneira a fazer frente a um desembarque americano nas constas do Japão, submetendo os civis a um treino sem limite. Quem conhece a história dessa guerra mortífera decerto recorda a superioridade tremenda da guerrilha japonesa nas ilhas ocupadas. O período de após guerra, mais calmo, e com a morte de velhos mestres (Funakoshi morreu com a idade de 88 anos), serviu para dividir os estilos. Os discípulos separam-se para ensinar, muitas vezes longe da disciplina e da técnica de origem.